quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Origem : Fenomeno

O êxito de um filme pode ser medido não só pelo barulho das caixas registradoras, mas também pelo barulho fora das salas de cinema. Dito isso, A Origem (Inception) é “o” sucesso. Há pouco mais de um mês em cartaz (no Brasil, chegou no dia 6 de agosto), o longa do diretor Christopher Nolan virou fenômeno na internet.


Até o Google está confuso. Há dois meses, quem digitasse “inception + theory” seria levado para grupos de discussão do livro A Origem das Espécies, de Darwin. Hoje, o internauta é dirigido para milhares de páginas que desdobram em variados níveis o filme no qual Leonardo DiCaprio interpreta um ladrão de sonhos, Dom Cobb, com a missão de inserir uma ideia na cabeça do herdeiro de um império econômico.

No fórum sobre o filme no IMDb, o mais popular site sobre cinema, existem mais de mil tópicos. No Facebook, quase 1,8 milhão de pessoas sinalizaram ter “curtido” o filme. No Twitter, Inception está nos Trending Topics há pelo menos um mês.

Na história recente, apenas o filme Matrix (1999) e o seriado Lost, que terminou este ano, produziram frenesi semelhante. Em comum, os três trazem a mistura de ficção científica, fantasia e ação, amarradas em uma narrativa não linear. O resultado também foi o mesmo: milhões de pessoas discutindo os mais ínfimos detalhes, fazendo surgir um universo que foge ao controle dos próprios criadores das obras.

Pulam na internet teorias para explicar o final de A Origem (confira algumas aqui, mas cuidado: tem spoiler de montão), análises psicanalíticas sobre temas como memória e culpa, informações sobre como as pessoas podem “dirigir” seus sonhos para se livrar de pesadelos e até experiências sonoras: internautas diminuíram a rotação da canção Non, Je Ne Regrette Rien, escolhida pelos personagens para serem “chutados” do estado de torpor para a realidade, até o ponto em que ela parece se fundir com a trilha incidental composta por Hans Zimmer – como a sugerir que a todo tempo os personagens estivessem para ser despertados. Sobre a canção, aliás, vale citar que ela é interpretada por Edith Piaf, que, por sua vez, foi encarnada no cinema por Marion Cotillard, que, por sua vez, em A Origem é a mulher de Cobb, que, por sua vez, ao contrário do que diz a letra em francês, vive no arrependimento.

No Brasil, um dos sites mais acessados é o Saindo da Matrix, do pernambucano que atende pelo pseudônimo de Acid (aqui, a entrevista completa). Suas teorias mesclam um pouco de tudo, indo do espiritismo à mitologia e utilizando conceitos de psicanálise. Acid comenta o zunzunzum:

– A Origem não é uma experiência passiva, ordenada. Somos apresentados a um mundo e depois somos chutados dele porta afora do cinema, e de alguma forma queremos mais, queremos prolongar essa sensação, essa experiência. Por isso voltamos a ver o filme, comparamos detalhes, trocamos ideias e percebemos coisas novas.

Para o professor de Cinema da PUC-RS Eduardo Wanmacher, A Origem é apaixonante por ser um blockbuster com narrativa acima do padrão:

– Misturando enigmas e brincando com símbolos em um cinema de massa, Nolan conseguiu satisfazer tanto a plateia que busca diversão pura e simples quanto aquela que gosta de se posicionar de maneira mais atuante.

À receita do bolo, a psicanalista Diana Corso acrescenta:

– Discutir os sonhos, e tudo o que eles encerram, leva a um autoconhecimento inédito e bem-vindo. Existe um desejo de compartilhar o mistério, talvez por essa ideia de que existe mais por dentro de nós mesmos do que conhecemos. É uma massa de gente compartilhando a consciência do inconsciente.

Mas, como todo hype, A Origem dividiu a opinião dos críticos no Brasil. José Geraldo Couto, da Folha de S. Paulo, diz que é “muito ruído, muito efeito, muita pirotecnia, muita música enfática para pouca substância estética”. O colunista Artur Xexéo, de O Globo, disse em seu blog que não entendeu o filme. Atacado pelos leitores, que o chamaram de “burro”, ele rebateu:

– A Origem, na opinião da grande maioria de seus espectadores, é um filme que faz pensar. Eu nunca neguei isso. Mas deixo aqui uma pergunta: faz pensar em quê?

A própria dissensão é outro elemento que contribui para tornar A Origem um fenômeno pop: goste ou não, todo mundo só fala deste filme.

 
 
Fonte: Zero Hora Online

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